São prescritas imunizações contra Covid, influenza, hepatite A, tétano e raiva, além da tríplice, que combate sarampo, rubéola e caxumba
Das seis vacinas recomendadas por médicos para os afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul — Covid-19, influenza, hepatite A, tétano e raiva, além da tríplice viral, que combate sarampo, rubéola e caxumba —, duas estão em falta no estado, diz o infectologista Alessandro Pasqualotto, doutor em medicina pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). “Falta vacina para Covid-19, apesar de existirem esforços dos governos, e não tem vacina contra hepatite A para todos”, lamenta o profissional, que atua na Santa Casa de Porto Alegre.
A prescrição das seis vacinas consta em uma nota técnica divulgada nesta semana pela SBI em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Sociedade Brasileira de Imunizações, a Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade, a Sociedade Gaúcha de Infectologia e a Associação Brasileira de Medicina de Emergência. O documento orienta profissionais da saúde sobre como agir durante a crise climática no Rio Grande do Sul.
“A vacinação tem que ser para todos, porque a água contaminada pode chegar, inclusive, às pessoas que estão em casa — seja na hora da limpeza, seja na hora de tomar água que não esteja purificada devidamente”, alerta o especialista. Enquanto não há vacina para a totalidade dos pacientes, o foco são os socorristas que atuam nos resgates.
Os socorristas são o foco principal das vacinas, especialmente os que têm machucados na pele. São pessoas que, geralmente, entraram na água até o pescoço.
(ALESSANDRO PASQUALOTTO, INFECTOLOGISTA)
Tendo em vista a escassez das duas vacinas, o Ministério da Saúde orienta, por ora, a vacinação apenas de pessoas em locais onde haja pelo menos dois casos confirmados de hepatite A. No caso da Covid-19, a ordem da pasta é vacinar quem não tem o esquema completo. “Pela SBI, vacinaria todos os adultos. O ministério orientou vacinar apenas pessoas próximas a pelo menos dois casos confirmados da doença. É de certa forma compreensível, porque existe uma escassez de vacina de hepatite A, mas não é o ideal”, diz Pasqualotto.
A instrução do Ministério da Saúde está em nota técnica da pasta divulgada nessa quinta-feira (16). Além de prever a restrição da vacina contra a hepatite A, o documento não inclui a vacinação em massa com a tríplice viral. Questionada sobre esses dois pontos e sobre a falta de vacinas contra a Covid-19, a pasta não respondeu à reportagem.
Crise de informação
Alessandro Pasqualotto diz que, além da falta de vacinas e outros produtos, há uma crise de informação no estado.
Toda hora chega mensagem perguntando como é que pega remédio, vacina, insumo. Os serviços, a maioria está funcionando, mas a gente vive uma crise de informação do sistema de saúde. Tanto de profissionais da saúde quanto de pacientes.
(ALESSANDRO PASQUALOTTO, MÉDICO INFECTOLOGISTA)
Guia de saúde
Para tentar amenizar o problema, Universidade de Caxias do Sul e a Sociedade Gaúcha de Infectologia, com o apoio de entidades do setor, lançaram um guia de saúde que serve tanto para profissionais da área quanto para potenciais pacientes. O texto orienta, por exemplo, em quais situações é essencial procurar ajuda médica.
O documento (baixe aqui a íntegra) explica as principais doenças transmitidas por água suja e em ambientes com superlotação. São elas:
• Leptospirose;
• Hantavirose;
• Toxoplasmose;
• Raiva;
• Leishmaniose;
• Diarreia aguda;
• Hepatite A;
• Ascaridíase;
• Difteria;
• Coqueluche;
• Meningite;
• Tuberculose.
Combate à leptospirose
Um dos principais riscos de quem tem contato com a água contaminada corre é contrair leptospirose, conhecida como “doença do rato”. Segundo o guia da SBI, a doença é “causada por uma bactéria chamada Leptospira, transmitida ao homem pela urina de roedores por meio do contato com a pele com lesões (mesmo pequenas) e as mucosas (olhos, nariz e boca). Outros animais (bois, porcos, cavalos, cabras, ovelhas e cães) também podem adoecer e, eventualmente, transmitir a bactéria para seres humanos”.
O infectologista Alessandro Pasqualotto e outros médicos da região têm recomendado tratamento preventivo com antibióticos a quem teve contato com a água suja. “A estratégia de fazer um diagnóstico precoce não funcionaria, porque as pessoas não estão tendo acesso aos estabelecimentos de saúde. Então, pode haver o uso de antibióticos preventivamente”, orienta.
Deve-se suspeitar de leptospirose quando houver contato com águas contaminadas com urina e fezes de animais e sintomas como febre; náuseas/vômitos; dor muscular, principalmente, nas panturrilhas; falta de apetite; dor de cabeça intensa; lesões hemorrágicas na pele; amarelão na pele; e mucosas.
(‘GUIA DE CUIDADOS COM A SAÚDE’, DA UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL E SOCIEDADE GAÚCHA DE INFECTOLOGIA)
Fonte: R7