Segundo o respeitado Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em sua 17ª edição, que acaba de sair, Sorriso é a 6ª cidade mais violenta do país. O índice aponta o grande fosso, um imenso e cruel abismo aberto pela desigualdade de renda. E o único município de Mato Grosso entre os 50 mais violentos do Brasil que fazem parte dessa lista de assassinatos em alta escala.
A cidade no Norte do Estado (cerca de 400 KM de Cuiabá) teve uma taxa de 70,5 mortes violentas para cada 100 mil habitantes, em 2022.
Concentrando a opulência e fortunas do agronegócio e seus barões, no entanto, a cidade mato-grossense (assim como uma espécie de “ilha da fantasia” de ricaços) é cercada por uma periferia marginalizada e sem acesso à riqueza que ajuda a construir, que fica em mãos de poucos.
Muitos dos quais desses bilionários são financiadores de atos golpistas e antidemocráticos, como o verificado em passado recente, em Brasília, com a invasão e depredação das sedes dos poderes constituídos – vandalismo, segundo estão revelando as investigações em curso, praticado por grupos extremistas bancados, inclusive, por empresários de Sorriso, entre outras cidades bafejadas pelo circuito da soja.
Infelizmente, o município de nome prosaico, que é o maior produtor individual de soja do mundo, ganha destaque, não pela grande produção de grãos, mas pela onda da violência extrema que espalha.
Capital Nacional do Agronegócio e com um dos maiores PIBs agropecuários do Brasil, a cidade de Sorriso (400 km ao Norte de Cuiabá) não era para ser considerada uma das mais violentas do país, se outras fossem as condições econômicas e sociais que levam à concentração exagerada de rendas.
Além de fatores econômicos, entre os quais baixos salários e o subemprego, a ausência do poder público em bairros carentes abre espaço para que facções criminosas dominem essas áreas, o que potencializa a violência.
Em suma, o dinheiro que sobra nas contas de determinados barões do agro (refiro-me aos fascistas do setor, até porque existem produtores rurais democratas), subtraído de impostos que deixam de ser pagos, e acaba em parte destinado a financiar desordens, muitas vezes, é o que falta para construir escolas, melhorar a saúde, qualificar mão de obra e implantar políticas públicas nos “bolsões” de miséria que rondam as “ilhas da fantasia” espalhadas por Mato Grosso e outras regiões brasileiras. Investimentos estes que poderiam ccntrapor à onda voolenta que costuma brotar de meios hostís.
Saiba mais
A informação é do 17ª Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (20), com a relação dos 50 municípios mais violentos do Brasil.
Segundo levantamento feito pelo IBGE, a socialmente desnivelada Sorriso ocupa atualmente a terceira posição no ranking das maiores economias agrícolas do País.
O PIB da cidade é de cerca de R$ 9,1 bilhões, sendo que 43,8% do valor adicionado advém dos serviços, na sequência aparecem as participações da agropecuária (31,4%), da indústria (7,9%) e da administração pública (7,9%).
Conforme o levantamento, a cidade no Norte do Estado teve uma taxa de 70,5 mortes violentas para cada 100 mil habitantes, no ano passado.
A título de comparação, a taxa média brasileira ficou em 19,5/100.000.
O município do Brasil com maior taxa de mortes violentas intencionais foi Jequié (BA), com 141 registros e uma incidência de 88,8 casos desse tipo por 100 mil habitantes.
As 50 cidades mais violentas do Brasil: confira a lista
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgou hoje a lista com os 50 municípios mais violentos do Brasil. Foram incluídas na pesquisa só cidades com mais de 100 mil habitantes, e quase metade (23) está no Nordeste, sendo 12 delas na Bahia. (Veja mapa e lista mais abaixo).
O município do Brasil com maior taxa de mortes violentas intencionais foi Jequié (BA), com 141 registros e uma incidência de 88,8 casos desse tipo por 100 mil habitantes. Uma faixa que vai dessa cidade até a área metropolitana de Salvador (BA) abriga as quatro cidades mais perigosas do país, que também incluem Santo Antônio de Jesus (2ª), Simões Filho (3ª) e Camaçari (4ª).
A capital baiana está em 12º lugar no ranking nacional, com taxa de 66 mortes violentas intencionais a cada 100 mil habitantes. A Bahia tem cidades no ranking também no Sul, Oeste e Norte do estado.
As outras regiões do país também têm municípios que figuram na lista. A região Sul teve cinco (três paranaenses e dois gaúchos), e o Centro-Oeste teve um (Sorriso, no Mato Grosso).
O Norte se destacou com uma área preocupante também, com 12 cidades na lista, incluindo as capitais Manaus, Porto Velho e Macapá. No Sudeste, o Rio de Janeiro é o único estado que figura na relação, com seis municípios entre os 50 mais violentos.
A decisão de incluir só cidades acima de 100 mil habitantes na lista pode esconder algumas cidades menores que também são violentas, mas evita que outras sejam incluídas na lista só por flutuação estatística. (Por exemplo, um município de 3.000 habitantes onde ocorra um homicídio ganha uma taxa de letalidade alta por causa de um único caso.)
Para o ano de 2021, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública havia publicado um ranking das 30 cidades mais violentas usando um critério diferente, calculando uma média entre os últimos 3 anos. Quase todas tiveram taxas altíssimas (acima de 100/100 mil), mas eram todos municípios com menos de 40 mil habitantes.
É difícil avaliar se houve algum deslocamento do fenômeno, mas o Nordeste também havia dominado aquela lista com dois terços das cidades listadas.
A Bahia é um dos estados que não tem conseguido reduzir de maneira consistente os homicídios no longo prazo. Apesar de uma queda de 6% em relação a 2021, o estados sempre apareceu na série histórica de 12 anos registrando mais de 6000 mortes violentas anuais. Estados como Alagoas e Paraíba, por outro lado, estão conseguindo derrubar suas taxas de homicídios.
— Na Bahia a gente tem uma questão bem diferente dos outros estados do Nordeste. O Nordeste acaba puxando a queda nas mortes violentas intencionais, mas a Bahia aparece neste ano entre os dois estados com maior taxa — afirma Talita Nascimento, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. (O campeão da violência em 2022 foi o Amapá, no Norte)
Segundo a especialista em direito penal, uma das razões para a alta nas mortes na zona de influência de Salvador são os eventos de confronto com policiais.
— A Bahia tem um número de letalidade policial grande, com uma politica de segurança pública ainda bem focada em atividades truculentas, que não mostra resultados positivos no longo prazo — diz. — Não é matando mais que se produz mais sensação de segurança.
Jequié é um dos locais que ilustram essa situação. Situado num trajeto de rota do narcotráfico e com presença do crime organizado, o município é palco de muitas operações de apreensão de drogas e armas, várias delas terminando em mortes.
Em maio passado, a polícia militar matou quatro homens armados após uma troca de tiros em um condomínio onde estavam escondidos na periferia da cidade. Em outubro, outros dois foram perseguidos após reagirem a uma abordagem policial e mortosdentro de um hotel na cidade. Durante o período, houve registros de mortes, em mais de uma dezena de casos noticiados pela TV Sudoeste, afiliada da TV Globo que cobre a região. Algumas foram aparentes confrontos de facções.
O mesmo perfil de violência parece se repetir em outras regiões onde o crime organizado está presente e a polícia concentra sua atividade em ações armadas. É o caso das regiões metropolitanas do Recife e do Rio de Janeiro.
Os 50 mais violentos
Os municípios e suas taxas de homicídio por 100 mil habitantes:
Jequié (BA) – 88.8
Santo Antônio de Jesus (BA) – 88.3
Simões Filho (BA) – 87.4
Camaçari (BA) – 82.1
Cabo de Santo Agostinho (PE) – 81.2
Sorriso (MT) – 70.5
Altamira (PA) – 70.5
Macapá (AP) – 70
Feira de Santana (BA) – 68.5
Juazeiro (BA) – 68.3
Teixeira de Freitas (BA) – 66.8
Salvador (BA) – 66
Mossoró (RN) – 63.5
Ilhéus (BA) – 62.1
Itaituba (PA) – 61.6
Itaguaí (RJ) – 61.6
Queimados (RJ) – 61.2
Luís Eduardo Magalhães (BA) – 56.5
Eunápolis (BA) – 56.3
Santa Rita (PB) – 56
Maracanaú (CE) – 55.9
Angra dos Reis (RJ) – 55.5
Manaus (AM) – 53.4
Rio Grande (RS) – 53.2
Alagoinhas (BA) – 53
Marabá (PA) – 51.8
Vitória de Santo Antão (PE) – 51.5
Itabaiana (SE) – 51.2
Caucaia (CE) – 51.2
São Lourenço da Mata (PE) – 50.3
Santana (AP) – 49.4
Paragominas (PA) – 49.3
Patos (PB) – 47.5
Paranaguá (PR) – 47.3
Parauapebas (PA) – 46.9
Macaé (RJ) – 46.7
Caxias (MA) – 46.5
Parnaíba (PI) – 46.3
Garanhuns (PE) – 44.9
São Gonçalo do Amarante (RN) – 44.9
Alvorada (RS) – 44.8
Jaboatão dos Guararapes (PE) – 44.6
Duque de Caxias (RJ) – 44.3
Almirante Tamandaré (PR) – 44.2
Castanhal (PA) – 44.2
Campo Largo (PR) – 43.3
Porto Velho (RO) – 42.1 Ji-Paraná (RO) – 41.8
Belford Roxo (RJ) – 41.8
Marituba (PA) – 41.6