Setores da extrema-direita nos Estados Unidos iniciaram uma campanha para boicotar o filme Barbie, que estrou mundialmente nos cinemas nesta quinta-feira (20).
Parlamentares conservadores criticaram um detalhe que aparece em uma imagem do filme: um mapa que mostra o Mar do Sul da China com uma representação cartográfica que é usada pela China.
A representação é conhecida como a linha de nove traços ou linha de nove pontos. O governo da China usa essa linha para demarcar suas reivindicações territoriais no Mar do Sul da China — por ela, cerca de 80% do Mar do Sul da China pertence à China.
Vietnã, Filipinas, Malásia, Brunei e Indonésia afirmam que a linha de nove traços é uma violação dos direitos que têm sobre essas áreas marítimas.
Deputados do Partido Republicano afirmaram que essa imagem do mapa foi inserida no filme “Barbie” para agradar os censores chineses. O senador Ted Cruz enviou uma declaração ao “Daily Mail” na qual afirma que “luta há anos” para evitar que empresas americanas, especialmente os estúdios de Holywood, alterem o conteúdo de seus produtos para tentar agradar o Partido Comunista Chinês.
No Brasil, fundamentalistas evangélicos também iniciaram numa cruzada contra o filme estadunidense. “O filme Barbie representa valores LGBTQIA+, defesa de valores progressistas e também valores que deturpam o projeto da tradicional família”, disse uma influenciadora evangélica brasileira.
“Se eu tivesse filhos eu não deixaria eles assistirem isso. O filme é um terror, feminista, vem com uma crítica muito forte deturpando a família, como se fosse errado”, disse outra evangélica em vídeo que viralizou nas redes.
Barbie rompe hipocrisia disfarçada
“Barbie é o clássico enigma: é um filme disruptivo em que a diretora Greta Gerwig conseguiu invadir o sistema e hackeá-lo para, ao fazer piadas sobre suas contradições e celebrar seu mundo de fantasia, questionar justamente a hipocrisia disfarçada de inclusão? Ou é um filme que, disfarçado de ser crítico e de debochar da lógica consumista e machista do mundo, das corporações e do próprio marketing imenso que cerca o filme, na verdade, celebra o universo cor-de-rosa de Barbie, onde, somente lá, as mulheres conquistaram tudo e são tudo que sempre sonharam ser?”, questiona a jornalista Flavia Guerra
“É justamente esta dicotomia que faz de “Barbie” um case (para usar um termo da publicidade). Gerwig, convidada a dirigir o filme, já afirmou que temeu não dar conta da tarefa. Afinal, como fazer um filme da menina dos olhos de uma empresa que vende brinquedos, não desagradar esta empresa, não ir contra os preceitos da empresa e, ao mesmo tempo, ser fiel ao cinema provocador e contestador que ela sempre fez? Tarefa difícil a de equilibrar todos os pratos neste jogo […] Barbie, como é óbvio, não é só um filme. Em sua artificialidade autêntica, Gerwig traz críticas sutis e outras mais óbvias sobre um sistema de pensamento que abre espaço para as mulheres ocuparem cargos de poder”, acrescenta Flavia.
Um dos melhores filmes do ano
“Encoberto pelo humor e sem medo de se jogar no ‘ridículo’, a produção entra em uma temática mais complexa, que se revela um tanto quanto surpreendente no final. Gerwig tem neste longa-metragem talvez um de seus trabalhos mais desafiadores. Além de reviver o sentimento de nostalgia em gerações de mulheres, a diretora teve nas mãos a possibilidade de desenvolver a importância e o impacto da Barbie na vida das pessoas — seja como inspiração ou como padrão de beleza inalcançável”, avalia a crítica Luiza Vilela.
“A comédia, em si, em tom de piada, é um dos pontos mais fortes do filme. Mais do que a própria Barbie, ela é o fio condutor de uma jornada de autoconhecimento, que mistura bem a nostalgia e a ilusão de um mundo cor-de-rosa perfeito a uma dura e insensível visão da realidade, que pode ser mais encantadora do que aparenta”, ponta Luiza.
“Outro aspecto que surpreende no trabalho de Greta Gerwig é a escolha da narração, que faz parte da história tanto quanto os personagens. Fica aí o aviso: quem for assistir à “Barbie” precisa prestar atenção em todos os detalhes, porque a narrativa vai bem além da imagem. Os diálogos da narradora com o público — e com os personagens — são mais um ponto acertado do enredo. Vale também o destaque à forma como a Gerwig escolheu “quebrar” a quarta parede. Há personagens no filme que não necessariamente são humanos ou bonecas, mas instituições. E conversam o o espectador, seja por influência de edições limitadas das bonecas, seja com seus acessórios”, acrescenta.
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