Foi mais um daqueles espetáculos deprimentes que a Câmara dos Deputados adora encenar quando o interesse do dinheiro fala mais alto do que o do povo.
Na noite de quarta-feira (8), por 251 votos a favor e 193 contra, o Congresso derrubou a MP 1303 — uma medida que tributava as operações de fintechs, bancos e casas de apostas, e que garantiria R$ 35 bilhões extras aos cofres públicos em 2026.
Dinheiro que ajudaria a manter as contas equilibradas, sustentar programas sociais e compensar a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
Mas o que fez a bancada federal de Mato Grosso diante disso? Curvou-se. E com gosto.
Liderada pela deputada Coronel Fernanda, a tropa bolsonarista do estado se apressou em defender as bets, os bancos e as fintechs como se fossem o “setor produtivo” — um delírio retórico que não engana ninguém.
De produtivo, essas empresas têm apenas o lucro; o resto é especulação, manipulação e fuga fiscal travestida de inovação.
Coronel Fernanda, com seu já conhecido discurso de “defesa do setor produtivo”, bradou que votou contra “mais impostos”. Mas talvez a parlamentar não tenha lido a MP — ou tenha fingido não ler. A proposta não aumentava imposto de quem trabalha, produz ou planta. Ela cobrava de quem vive de roleta digital, de algoritmo financeiro e de dinheiro que gira sem sair do ar-condicionado dos escritórios de luxo.
A ironia é que o voto da bancada mato-grossense, vendido como patriotismo econômico, foi na verdade um presente de Natal antecipado aos bilionários e apostadores. Enquanto o governo tenta aliviar a carga dos assalariados e fortalecer os programas sociais, os deputados de Mato Grosso decidiram proteger o lobby das apostas — um setor que, segundo órgãos de controle, movimenta fortunas sem transparência e drena recursos do país.
Nas redes sociais, o povo não perdoou. A caixa de comentários da Folha de S.Paulo virou um campo de batalha de indignação popular:
“PL e Centrão: contra o povo, a favor dos milionários e das bets!”
“Congresso Nacional, inimigo declarado do povo brasileiro.”
“Quem é contra taxar casas de apostas e bancos, é a favor do crime e da desigualdade.”
“Fintechs lavando dinheiro e os deputados aplaudindo.”
O recado foi direto: a população entendeu perfeitamente o jogo — e quem joga de que lado.
A bancada de Mato Grosso perdeu a chance de se posicionar ao lado do país real, aquele que pega ônibus às 6h, paga juros, taxa, tarifa e ainda precisa ouvir que “não é hora de cobrar dos ricos”. Preferiram o conforto dos gabinetes e os aplausos discretos dos lobistas.
Ao derrubar a MP 1303, os deputados mato-grossenses e seus aliados mostraram que a prioridade não é o equilíbrio fiscal, nem a justiça tributária — é o velho e conhecido servilismo político. Servilismo ao dinheiro fácil, às apostas fáceis e às promessas fáceis de quem financia campanhas com lucros que o povo jamais verá.
E assim, mais uma vez, o Congresso sai da sessão de cabeça erguida — não por dignidade, mas porque, ajoelhado diante do poder econômico, é impossível baixar mais.




