A paixão por vinhos compartilhada pela engenheira civil Rachel Molina e seu marido, o agronônomo Luis Oliveira, rendeu frutos. Eles criaram uma vinícola premium em Chapada dos Guimarães.
Para produzir um vinho premium, a variedade precisa ser vitis viníferas
Por já trabalharem na área do meio ambiente, tudo foi de certa forma encaminhado para que eles embarcassem nessa nova jornada, com o desafio de colocar a cidade na rota nacional do enoturismo.
“A gente achou que a região tinha potencial para o setor. Existem outros plantios de uvas vitis americanas, mas ninguém nunca fez vinho em si, vinho com característica mais fina. Para produzir um vinho premium, a variedade precisa ser vitis viníferas”, explica Rachel.
Apesar do empreendimento já estar em funcionamento e recebendo visitantes, a engenheira diz que o espaço da indústria, que funciona com hoje com cerca de 30% da capacidade projetada, deve ser finalizado em três ou quatro anos, o que irá potencializar a produção.
Segundo a engenheira, no primeiro ano de colheita, a vinícola produziu cerca de 500 garrafas entre brancos e tintos, disponibilizando 400 para venda no local, que é o principal objetivo da Vinícola Locanda do Vale.
“O nosso projeto está focado mais em venda local. É provável que haja alguns lugares, restaurantes, supermercados, que possam ter o nosso vinho, mas em pequena quantidade. Até mesmo porque, como eu tenho várias variedades, não vou ter muitas garrafas de um vinho só”, explica.
Atualmente, a vinícola conta com pés de sauvignon blanc, chenin blanc e viognier, que são uvas brancas. Já entre as tintas, eles produzem a syrah, cabernet sauvignon, pinot noir e marselan.
Além disso, há também pés de niágara, que são para consumo da casa e para oferecer aos visitantes na recepção.
“Para suco, nós temos violeta e isabel precoce, que são vitis americanas. Mas nem todos [os pés] produzem ainda. Como tem plantio de 2020, 2021, há uvas que eu não tive nada de produção”.
Assim como os vinhos premium, Raquel também cita a alta qualidade da produção dos sucos, que têm, inclusive, um valor de custo maior pela seleção da matéria-prima.
“Eu brinco que a minha produção de suco de uva é puro capricho. Porque não é viável. Mas como eu quero atender a família inteira, os meus pequenininhos e os adultos, tenho que ter o produto que atenda a quem não bebe ou não pode beber”.
Adaptação para o clima
A engenheira revela que utiliza uma técnica chamada dupla poda para conseguir produzir frutos de qualidade, em adaptação ao clima chapadense.
O procedimento, como o nome já diz, trata-se de podar os pés antes que criem frutos, como uma condução para que sejam produzidos somente na época em que o clima esteja favorável.
“Nessa técnica, eu começo a podar e a minha planta começa a dar as folhas novamente em abril, maio, junho, julho. [Nesta época] Tenho um período, que embora o dia tenha Sol, não é um Sol tão forte. Eu tenho na média ali 26, 25 graus de dia e as noites são mais frescas”.
“Fica em torno de 12, 13, 15 graus à noite. Então, essa amplitude térmica, essa variação entre a média da mínima e a média da máxima, é bem interessante. Preciso ter amplitude térmica, altitude, boas condições de solo e boas técnicas no vinhedo. E, é claro, contar com São Pedro”.
“E é nessa técnica da dupla poda, por exemplo, que Goiás está produzindo vinho, Brasília está produzindo vinho, alguns lugares em Minas estão produzindo vinho”.
Experiência
Além da produção e venda dos vinhos e sucos, a vinícola também oferece visitas guiadas, que são verdadeiras experiências, pois o tour também passa pela plantação e conta até mesmo com a colheita de uvas e outras frutas que houver nos pés.
“Nós fizemos um aplicativo, e a gente disponibiliza dois tipos de passeio. No piquenique a pessoa faz um tour pelo vinhedo. Nós temos um pomar central bem bonito. Se tiver sorte no dia, a pessoa faz colheita das frutas que estão produzindo, como amora, limão siciliano e uma variedade de cítricos”.
“Depois a gente sobe, e tem quatro ilhas de piquenique. E lá os visitantes ganham uma caixa com comidinhas harmonizadas para tomar com espumante de um produtor terceiro”.
“E aí tem uma outra experiência, em que a pessoa dá a volta no vinhedo, depois passa pela sala da vinificação e, em seguida, vai para fazer uma uma mini-degustação, também harmonizada”.
“É servido o mesmo espumante da cesta de piquenique e os nossos vinho branco e o tinto. Porque assim os visitantes já sentem um pouquinho do sabor pra ficar guardado na memória. Se tiver disponível a garrafa do tinto, alguns já levam, porque o branco eu tenho só pra degustação lá”.
Para conhecer o local, Rachel explica que basta entrar no site da Locanda do Vale, ou no perfil do Instagram, e escolher a experiência.
Mão de obra local
Segundo Rachel, a implantação da vinícola também aborda questões do desenvolvimento local. Diante disso, ela e seu marido decidiram que toda a mão de obra contratada para trabalhar no campo da vinícola fosse da região de Chapada.
“Quando se fala de vinho aqui, você geralmente quer trazer mão de obra do Rio Grande do Sul, por exemplo. Mas o que a gente fez? Investimos em pessoas. Então, a pessoa que trabalha lá no campo comigo é um chapadense que recebe treinamento todo mês”.
“A nossa enóloga residente, que é a única de fora, vem e dá todo treinamento. Então, eles estão comigo por um período, mas poderão ir para outras vinícolas trabalhar”.
“A gente se questionou muito isso no início, se ia trazer mão de obra de outro estado ou se ia pegar a mão de obra local. É mais trabalhoso para a gente, né? Porque, embora Chapada tenha um período muito frio, essa mão de obra mais simples não tem acesso ao vinho”.
“Mas aqui, eles fazem os vinhos, é partilhado com eles, eles levam garrafas para casa, para tomarem, e aprendem a apreciar o vinho também”.
Por ANGÉLICA CALLEJAS