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Barco com corpos encontrado à deriva no Pará tinha Ilhas Canárias como destino, diz PF

Arquipélago espanhol é usado como rota migratória para entrada no continente europeu. Superintendente da PF no Pará diz que barco se perdeu no mar e pegou correntes marítimas da África até o Brasil.

As investigações da Polícia Federal apontam que o barco com corpos encontrados na costa paraense tinha como destino às Ilhas Canárias, na costa da África Ocidental, segundo as investigações da Polícia Federal. O arquipélago espanhol é usado como rota migratória para entrada no continente europeu.

A embarcação foi encontrada no sábado (13). Nove corpos estavam dentro da embarcação; um estava na água. Há suspeitas de que ao menos 25 pessoas estariam no barco, que pode ter atravessado o Oceano Atlântico, da África ao Brasil, sem motor nem leme.

“As investigações levam a entender que esse barco muito provavelmente saiu da Mauritânia com destino às ilhas Canárias. Há um fluxo intenso de imigração ilegal entre esses dois países”, informou o superintendente da PF no Pará, José Roberto Peres.

Segundo o superintendente, há contrabando ilegal de imigrantes da Mauritânia para as Ilhas Canárias. A PF vai apurar indícios da atuação de organizações criminosas que operam com imigração ilegal.

A rota de migração África Ocidental-Atlântico é considerada uma das mais mortais do mundo. Pelo menos 543 migrantes morreram ou desapareceram nessa jornada apenas em 2022, de acordo com a Organização Internacional para Migração (OIM), agência da ONU para as migrações.

As tentativas de travessia geralmente ocorrem em embarcações improvisadas e superlotadas, que tornam a viagem perigosa e potencialmente mortal.

“Provavelmente o barco se perdeu ao mar, deve ter pegado uma corrente marítima e chegou ao Brasil. Em 2021, foram localizados sete barcos idênticos com esse. A maioria no Caribe e um deles no Ceará”, disse José Roberto Peres.

Barco com corpos: papiloscopistas do Núcleo de Identificação da PF trabalham na análise das vítimas e embarcação — Foto: PF/Divulgação

Barco com corpos: papiloscopistas do Núcleo de Identificação da PF trabalham na análise das vítimas e embarcação — Foto: PF/Divulgação

Segundo o doutor em oceanografia Yuri Prestes, formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), é possível que o barco tenha chegado até o litoral paraense devido à embarcação não ter motor e ao sistema de correntes oceânicas.

Conforme a marinha, o barco de 13 metros em que foram encontrados os corpos é artesanal, e não tinha motor, leme, nem sistema de direção

“Provavelmente teve alguma interação com a corrente da costa africana. Existem algumas correntes que têm alguns nomes, como correntes das Canárias e da Guiné. Provavelmente (a embarcação) foi sujeita ao fluxo da corrente equatorial, aqui no Oceano Atlântico”, explicou Prestes.

Em abril de 2021, três corpos em decomposição e 27 celulares foram encontrados em uma embarcação em alto-mar próximo à costa de Fortaleza, no Ceará.

Uma das hipóteses levantadas pela PF à época, sugeria que os corpos poderiam ser de imigrantes que tentavam chegar à Europa.

Migrantes são do continente africano

A Polícia Federal acredita que ao menos 25 pessoas estavam no barco encontrado à deriva no Pará. Ao todo, nove corpos foram encontrados e documentos apontam que as vítimas são da África. No entanto, a investigação suspeita que o barco tinha mais ocupantes quando iniciou a viagem.

“Ao menos 25 pessoas estavam na embarcação à deriva encontrada na região de Bragança no último sábado (13/4). Esse é o número de capas de chuva (23 verdes idênticas e duas amarelas) que estava no barco, de acordo com a perícia da Polícia Federal”, diz a PF em nota.

Barco foi encontrado à deriva no Pará com corpos no fundo da embarcação em estado de decomposição — Foto: Reprodução

Barco foi encontrado à deriva no Pará com corpos no fundo da embarcação em estado de decomposição — Foto: Reprodução

Documentos encontrados também indicam que a embarcação partiu após o dia 17 de janeiro de 2024 e que as vítimas eram migrantes da região da Mauritânia e Malli, no continente africano. Por isso, a suspeita inicial é que o barco tenha saído da Mauritânia.

Apenas a perícia deve apontar com exatidão o local de saída do barco, assim como a causa da morte. A Polícia não informou suspeitas sobre o que pode ter acontecido com as demais pessoas que não foram encontradas no litoral paraense.

Os trabalhos de perícia seguem pelos próximos dias, de acordo com o superintendente da PF no Pará, José Roberto Peres.

“Um trabalho minucioso de perícia começa e deve se estender até o fim de semana e ali vai ser identificada a causa mortis, mas provavelmente a causa de morte foi falta de alimento e água” , informou o superintendente.

Capas de chuvas estavam em barco encontrado com corpos e indicam que havia mais pessoas na embarcação, diz PF — Foto: Polícia Federal/Dikvulgação

Capas de chuvas estavam em barco encontrado com corpos e indicam que havia mais pessoas na embarcação, diz PF — Foto: Polícia Federal/Dikvulgação

Foram nove corpos resgatados em Bragança, no nordeste do Pará, e enviados para o Instituto Médico Legal (IML) na capital Belém. Oito das vítimas estavam no barco encontrado no sábado (13) por pescadores no litoral paraense. Um nono corpo foi achado na água próximo à área onde o barco estava. Todos em avançado estado de decomposição.

O caminhão frigorífico com os corpos chegou a Belém na tarde desta terça-feira (16) para início da perícia -veja aqui os detalhes.

PF vai apurar indícios de imigração ilegal

O superintendente da PF no Pará, José Roberto Peres, informou que foram localizadas no barco diversas capas de chuvas idênticas, que apontam para possibilidade de imigração ilegal.

Barco com corpos foi encontrado à deriva no litoral paraense — Foto: PF/Reprodução

Barco com corpos foi encontrado à deriva no litoral paraense — Foto: PF/Reprodução

“Uma organização que muito provavelmente contratou o barco, vendeu as vagas. As capas de chuvas trazem indício forte de que há uma organização criminosa que se enriquece com a tragédia humana da imigração ilegal”.

Peritos vão analisar amostras de DNA, digitais e a arcada dentária para identificar as pessoas encontradas mortas. As informações serão compartilhadas com a Interpol. O objetivo é apurar se há reclamação de pessoas desaparecidas.

A embarcação foi localizada em área conhecida como “Barra do Quatipuru”, nas proximidades da praia de Ajuruteua, em Bragança, distante cerca de 215 quilômetros de Belém, na região conhecida como salgado paraense.

O barco também vai passar por perícia feita pela Marinha, que não informou data para os trabalhos.

Fonte: G1 Pará

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