Pesquisador Sênior e co-fundador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Paulo Moutinho, conversou sobre o aumento da temperatura em Mato Grosso e as políticas ambientais que podem ameaçar as áreas de preservação no Estado.
Moutinho foi uma das atrações do seminário que discutiu soluções e o controle das mudanças climáticas, realizado na última terça (10) e quarta-feira (11) no hotel Delmond, em Cuiabá.
Veja a entrevista abaixo:
GD: Mato Grosso, como outros Estados do país, tem sofrido com as altas temperaturas. Como o desmatamento tem contribuído para isso a cada ano?
Paulo Moutinho: Existe uma sinergia entre mudança climática global que traz a seca para Amazônia com o aquecimento do Atlântico Norte. Isso é potencializado com o aumento do desmatamento. Quando reduz a cobertura florestal, você potencializa os efeitos que a mudança climática global traz e altera esses eventos extremos.
GD: Nas últimas 3 décadas, Cuiabá perdeu 17% de áreas verdes. O desfalque na arborização também é um fator contribui para o calor intenso. Na avaliação do senhor, falta políticas por parte dos governantes para o assunto?
Paulo Moutinho: É fundamental que todas as grandes Capitais que já tem previsão de aumento de temperatura tenham planos de adaptações climáticas. Uma deles, seria aumentar as áreas verdes urbanas. É fundamental que os prefeitos e Estados entendam que as grandes cidades podem reverter esse problema, aumentando a quantidade de área verde.
GD: Atualmente, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso discute um Projeto de Lei Complementar que permite mineração em áreas de reserva legal. Qual a avaliação do senhor sobre isso?
Paulo Moutinho: Mineração em qualquer área que tem floresta preservada vai ser um jogo de perde-perde. Por mais que essa mineração dê resultados em termo de royalts e investimentos, você tem um dano ambiental que vai cobrar um preço muito grande lá na frente. Isso pode acabar em um problema muito sério
GD: No Estado, o governo investiu mais de R$ 260 milhões entre 2019 e 2023 com sistema de satélites e fiscalização remota e em campo para combater o desmatamento e incêndios na Amazônia. O senhor acredita que essas medidas são suficientes para frear os crimes ambientes que ocorrem?
Paulo Moutinho: Não é suficiente, mas é fundamental. O monitoramento remoto é que dá o grande norte da ação de controle que o Estado tem que ter. Isso é importante, é preciso que você aparelhe os bombeiros, policia ambiental, militar, enfim. São eles que estão na ponta fazendo esse controle. Mas é preciso de incentivos de que é possível gerar recurso com a distribuição de renda. A economia baseada na natureza pode fazer isso. Ela é a grande alavanca para o futuro, é preciso repensar as opções econômicas.
Por Allan Mesquita




