O empresário Alex Leandro Bispo dos Santos, preso pela suspeita de ter espancado a esposa, Maria Katiane Gomes da Silva, momentos antes de ela cair e morrer do 10º andar de um prédio em São Paulo, está no centro de uma controversa transação financeira milionária. (Veja o vídeo no final da matéria).
Documentos revelam que Alex Bispo recebeu um montante de R$ 12 milhões de uma Organização Não Governamental (ONG) cujo comando está ligado à produtora executiva da cinebiografia do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Essa verba tem origem em um contrato de R$ 108 milhões firmado pela Prefeitura de São Paulo para a instalação e manutenção de wi-fi gratuito em comunidades de baixa renda.
O pagamento a Alex Bispo partiu do Instituto Conhecer Brasil (ICB), presidido por Karina Pereira da Gama – que é produtora executiva do filme “Dark Horse” através de sua produtora Go Up.
O documento que formaliza o acordo milionário com a empresa de Alex, a Favela Conectada, inclusive traz a assinatura da vítima, Maria Katiane, como testemunha.
A contratação do ICB pela Prefeitura de São Paulo, na gestão Ricardo Nunes (MDB), já estava sob escrutínio. Uma reportagem do The Intercept apontou que o edital para o serviço, que visava 5.000 pontos de wi-fi, continha pelo menos 20 irregularidades, segundo o Tribunal de Contas do Município.
Além disso, o custo para o serviço do ICB era significativamente mais alto: R$ 1.800 por ponto instalado, além de R$ 1.800 mensais pela manutenção de cada ponto. Em contraste, a empresa municipal especializada, Prodam, cobra apenas R$ 306 pela manutenção.
A Prefeitura de São Paulo defendeu a contratação e o programa Wi-Fi Livre SP, alegando que a ONG cumpriu as exigências e que a contratação se deu porque a Prodam não pode atuar em ambientes privados.
Dinheiro por serviço não prestado
O contrato, originalmente, previa o início da instalação apenas para janeiro de 2025, mas foi alterado a pedido da Prefeitura para que os serviços fossem acelerados e ganhassem fôlego em outubro, mês da eleição municipal.
A coluna destaca uma manobra incomum: a gestão Nunes aceitou considerar 30 de junho de 2024 como a data-base de instalação de todos os pontos, ignorando os relatórios detalhados com as datas reais de funcionamento. Como resultado, a Prefeitura teria pago cerca de R$ 26 milhões ao ICB pela manutenção de pontos de wi-fi que, na realidade, ainda não existiam.
A empresa de Alex Bispo, a Favela Conectada (cuja sede funciona em um prédio com aluguel pago pelo ICB com recursos do contrato municipal), foi contratada como terceirizada. Sua empresa recebeu R$ 712 por mês por ponto de manutenção.
O levantamento revela que a Favela Conectada recebeu 12 “mensalidades” de manutenção para 218 pontos que só funcionaram por pouco mais de dois meses (entre abril e junho de 2025).
Enquanto a Prefeitura pagou R$ 2,7 milhões à ONG de Karina pela manutenção destes 218 pontos, o custo efetivo do serviço prestado à população foi de apenas R$ 273 mil.
A tragédia e a prisão
Alex Leandro Bispo dos Santos foi detido na terça-feira (9/12) sob suspeita de feminicídio. Imagens de segurança mostram que ele agrediu Maria Katiane brutalmente no estacionamento e no elevador do edifício, na zona sul de São Paulo, pouco antes de ela cair da janela do 10º andar e morrer.
A prisão preventiva foi decretada na terça-feira. Nas imagens do elevador, o suspeito é visto agredindo a vítima e, menos de dois minutos depois da agressão final, retorna sozinho, com as mãos na cabeça, em um aparente estado de desespero. O caso é investigado como feminicídio.



