Mais de dois anos após um dos crimes mais bárbaros já registrados em Sorriso/MT, o silêncio de um pai enlutado foi rompido. Em entrevista exclusiva, concedida nesta terça-feira (16) a um jornal TV Cidade Record de Rondonópolis/MT, Regivaldo Batista Cardoso, esposo de Cleci e pai de três meninas assassinadas, falou publicamente pela primeira vez sobre a dor, a saudade e a revolta que carrega desde a tragédia que marcou sua vida para sempre.

O crime aconteceu em 25 de novembro de 2023, quando Cleci Calvi Cardoso, de 46 anos, e suas filhas Miliane, 19, Manuela, 12, e Melissa de apenas 10 anos, foram brutalmente assassinadas dentro da própria casa. O autor, Gilberto Rodrigues dos Anjos, à época com 32 anos, invadiu a residência pela janela do banheiro. Preso logo após o crime, ele confessou os estupros e os assassinatos, alegando estar sob efeito de drogas.

Para Regivaldo, a notícia foi devastadora.

“Nenhum pai quer receber uma notícia dessa. Foi a pior da minha vida”, disse, com a voz embargada. “Eu não consigo rever as cenas da tragédia, mas constantemente revejo fotos que trazem boas memórias. Dói muito, porque eu relembro os momentos que tivemos.”

Em meio ao luto que não tem prazo para acabar, Regivaldo descreve uma rotina marcada pela ausência e pela saudade. As lembranças felizes — sorrisos, conversas simples, momentos em família — tornaram-se ao mesmo tempo um alívio e uma ferida aberta. “A dor não passa. A gente aprende a conviver com ela”, afirmou.

O julgamento de Gilberto Rodrigues dos Anjos ocorreu no Tribunal do Júri de Sorriso/MT e durou cerca de 10 horas. Ao final, o réu foi condenado a 225 anos de reclusão pelos crimes de estupro, estupro de vulnerável e feminicídio. A sentença foi proferida pelo juiz Rafael Deprá Panichella, da 1ª Vara Criminal do município.

Mesmo diante da condenação exemplar, Regivaldo afirma que nenhuma pena é capaz de reparar a perda irreparável. “Nada vai trazer minha esposa e minhas filhas de volta”, resume.

Ao decidir falar agora, Regivaldo diz que o faz não apenas por si, mas para manter viva a memória das vítimas e para que a sociedade não esqueça da gravidade da violência contra mulheres e crianças. Seu depoimento é um retrato cru da dor de um pai que teve a família arrancada de forma brutal e que segue tentando sobreviver à ausência deixada por quem mais amava.

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