O Brasil começou nesta quinta-feira (12.10) a celebração de uma paixão nacional: curtir dias parados. Sejam feriados, dias santos ou datas de eventos patrióticos, pontos facultativos dados generosamente por governadores e prefeitos, ou dias próprios para serem “enforcados”, são momentos do calendário que celebram o “ócio made in Brazil”. Aliás, o termo “enforcar” até parece violento e radical, mas no caso da alma brasileira significa apenas o gesto de ganhar mais tempo para não fazer nada, ficar na paz, de boa, na farra, na preguiça merecida e democraticamente compartilhada.
Quinta, sexta, sábado e domingo de folga institucionalizada. Quando ocorrem assim juntos, chamamos simpaticamente estes dias parados de “feriado prolongado”. Serão 96 horas paradas, celebrando o nada por fazer. Uma conquista que o brasileiro não abre mão. Qualquer discurso de críticas aos feriados e dias enforcados recebe a repulsa unânime dos nacionais, afinal, argumentam, existem tantas mazelas e desigualdades no país porque colocar estes dias parados na ordem das prioridades das discussões?
Aos dias parados, soma-se outra marca da cultura brasileira, o chamado “jeitinho”. Ficar parado é uma forma de praticar a postergação da solução de problemas. Um jeitinho de não decidir. Deixar para depois, depois, depois do feriado. E neste “depois” temos o continuar das desigualdades sociais, do ódio à diversidade, da matança de mulheres. O debate e soluções vão ficando para depois. E trazer estas questões nos dias parados nem convém, com o risco do sujeito ser visto como o estraga prazeres e moralista.
Os brasileiros temos um exemplo da cultura do dia parado que vem do andar de cima. O cultivo do ócio, no caso muito bem remunerado, dos poderosos. Os poderes Judiciário e Legislativo tem dois períodos de recesso a cada ano, Parlamentares e magistrados tem o direito assegurado de ficarem sem fazer nada nos seus dois recessos anuais e ainda agregam, democraticamente, mais os dias de feriados e pontos facultativos que são concedidos aos brasileiros comuns.
Nas redes sociais, a celebração dos dias parados é feita com muito bom humor, afinal brasileiros rimos de quase tudo. Veja como exemplo o vídeo abaixo: o feriado prolongado é celebrado como uma dádiva brasileira, que merece todo o respeito e empenho no melhor usufruto.
Por Pedro Pinto de Oliveira