Reeducandos do presídio Osvaldo Florentino Leite, “Ferugem”, denunciam agressões sofridas pelos agentes penitenciários no local. Em carta manuscrita encaminhada à família, detentos afirmam que estão em celas sem ventilação, recebem comida crua e ainda sofrem sessões de espancamento e tortura.
Em uma das cartas obtidas pelo GD, o preso narra que o local foi reformado, mas alaga quando chove, que ficam dias sem trocar de roupa, além de sofrer agressões físicas constantemente.
“Foi feita uma reforma na unidade, mas ainda molha dentro das celas, molha nossas roupas, colchões e objetos que ainda temos. A ventilação é ligada só no período noturno. Foi instalado um bebedouro, só que somos 150 reeducandos e o bebedouro é só de 80 litros e não consegue nem resfriar a água, mas sim mantê-la mais quente que a da torneira quando cai, porque a água da torneira só é ligada 3 vezes ao dia, no período de 1h”, conta.
O texto ainda conta que as queixas são levadas à direção da unidade, mas nunca sanadas. “Quando insistimos, somos desmaiados e mandados para a ala disciplinar e lá sofremos mais maus tratos”, relata. “Na ala de raio disciplinar, temos que ficar sem colchão, lençol ou qualquer tipo de agasalho. Às vezes ficamos até 15 dias com a mesma roupa”.
Na carta, o detento dá detalhes da comida que recebem no local.
“Nossa alimentação continua do mesmo jeito, com frango cru com cheiro ruim, carne vem toda preta, a carne moída com gosto de sangue, arroz cru. Só nesta unidade de Mato Grosso não entra alimentação levadas pelas visitas para que possamos comer algo diferente”, pontua em nome dos demais reclusos.
“Nós sabemos que temos que pagar por nossos erros, mas como cidadãos humanos, pois aqui somos tratados pior que muitos animais”, finaliza.
Ao GD, a familiar de um dos detentos que reclamou conta que as queixas sobre maus-tratos são frequentes.
“Depois que aconteceu a mudança de raio, eles passaram a relatar que a água é suja, porque a caixa d’água é aberta e os pombos fazem cocô dentro, assim como a água para beber. Os servidores tratam as visitas com ignorância, tentam nos acuar, dizendo que se quisermos ver nossos familiares vai ser daquele jeito, e que se reclamarmos eles irão proibir a visita”, relata a mãe de um detento. Ela, que não quis se identificar, conta que o filho que estava doente por causa da água suja.
Ela conta que o novo raio para o qual os detentos foram transferidos não possui cobertura para receber as visitas. Também relata que, mesmo chegando às 6h, os familiares só podem entrar às 9h.
“O tempo de visita depende do humor dos agentes. Se eles estão em um bom dia, nós conseguimos fazer até 2h de visita. Mas se eles não estão, são apenas 30 minutos”, conta. “Na visita passada, meu marido relatou que estava passando por uma situação muito precária, recebendo comida azeda, que estavam deixando ele sem água. Que estavam recebendo tiros de borracha e spray de pimenta”, contou a esposa de um dos detentos.
O presídio possui um corredor que passa por cima das celas dos detentos, com grade no teto. Segundo as denunciantes, é por estas grades que os presos recebem spray de pimenta e tiros de borracha.
“Foi feito esse raio justamente para os presos não possuírem contato entre si. Tanto é que as grades são automáticas e abrem sozinhas, mas mesmo assim, eles são agredidos”, relata.
Os familiares denunciaram as situação ao Ministério Público (MPMT) e houve melhorias no local, mas a condição já piorou novamente.
“Eles estão mandando carta pedindo para gente pedir socorro para eles. Então nós que somos famílias estamos correndo atrás dos direitos deles”, argumenta uma das esposas.
A reportagem tentou contato com o Ministério Público, que informou que recebeu a denúncia e foi instaurado procedimento para apuração. Já a Secretaria de Segurança Pública, não se pronunciou sobre.
Fonte: GD