Ricardo Stuckert / PR – arquivo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou nesta quarta-feira (27) decreto que regulamenta a TV 3.0 no Brasil.
A cerimônia aconteceu no Palácio do Planalto, com a presença do ministro das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho.
Na ocasião, o ministro Siqueira Filho defendeu que a TV 3.0 é a televisão do futuro: “Aberta e gratuita, com imagem e resolução 8K, interatividade avançada e imersão sonora. São novas formas de assistir, participar e se informar. Muda jeito de ver vídeo, mas a televisão continua sendo o principal meio de comunicação do país”.
Para Siqueira Filho, o momento é da TV se modernizar. “A TV vai continuar gratuita, mas com a conexão a internet o telespectador terá uma experiência totalmente nova. Será possível acionar narração, voltar no programa, conversar com outros telespectadores, dar replay no gol, comprar o aparelho que aparece na novela”, listou.
O ministro também explicou que os anúncios poderão ser segmentados conforme a realidade e região do público. “O impacto vai além da tela e chega na economia”, garantiu.
Em abril, durante o balanço de dois anos de governo, Lula defendeu a implementação da tecnologia. O novo modelo permitirá às emissoras um salto de resolução, do Full HD para 4K ou até 8K.
“Vem aí a TV 3.0, sistema que vai fazer o casamento definitivo da TV aberta com a internet. Com isso, a população brasileira terá acesso à televisão de última geração, com imagem e som de altíssima definição. Isso significa mais informação e mais qualidade para a população brasileira”, declarou Lula na ocasião.
Momento histórico
O presidente da Abratel (Associação Brasileira de Rádio e Televisão) e diretor corporativo na Rede Record, Márcio Novaes, definiu o momento como “histórico”.
“Destaco o momento histórico que vai além e é muito importante para nós”, começou ele, citando o encontro dos representantes dos principais canais da TV aberta no evento de assinatura.
Novaes afirmou para Lula que ainda durante o governo do petista, “a televisão 3.0 deverá chegar ao aparelho celulares de todos os brasileiros”.
“Isso gratuitamente, sem consumir o pacote de dados [da internet]. É mais um passo importante para democratizar a comunicação e o acesso”, afirmou.
Já o CEO do Grupo Record, Marcus Vinícius Vieira defendeu que a TV 3.0 é a oportunidade para o usuário navegar em duas tecnologias ao mesmo tempo. “Isso vai ser fundamental. É a democratização, digamos assim, desse veio”, observou.
Segundo ele, as TVs, e a própria Record, vem se preparando há muito tempo com todo o setor para essa nova tecnologia. “A Record vai estar pronta para esse momento. Nós entendemos que esse momento jamais poderia ser alcançado sem os nossos parceiros, os nossos afiliados. E, com certeza, eles [regionalmente] também vão ser alcançados”, garantiu.
Entenda
A fase preparatória para implementação da TV 3.) está prevista para ser concluída em 2025, com as primeiras transmissões no primeiro semestre do ano que vem, nas grandes capitais. O processo de expansão até atingir a cobertura de todo o território nacional deve levar até 15 anos.
A política recebeu o investimento de R$ 7,5 milhões do governo. A maior eficiência na transmissão do serviço vai permitir a entrada de novos radiodifusores, tornando o setor mais democrático e acessível. Com o uso da internet, a TV 3.0 terá potencial de servir como ponto de acesso a serviços públicos digitais e como ferramenta de inclusão e participação social.
Um dos diferenciais, é que a TV vai oferecer imagens em 4K e até 8K, som imersivo, maior interatividade e integração com a internet. O objetivo é oferecer uma experiência personalizada para os telespectadores, aproximando a TV aberta dos serviços de streaming.
O que prevê o decreto?
O decreto estabelece a adoção da tecnologia de transmissão do sistema ATSC 3.0, conforme recomendação do Fórum do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD). O Fórum, criado para assessorar tecnicamente o governo brasileiro na implantação do serviço de TV digital no país, é uma entidade sem fins lucrativos que reúne representantes dos setores de radiodifusão, universidades, centros de pesquisa e desenvolvimento, além de fabricantes de televisores, transmissores e softwares.
Conforme o governo, o ATSC 3.0 é um conjunto de padrões que especifica um dos sistemas de transmissão digital mais avançados do mundo. Engloba camada física, transporte, áudio, vídeo, legendas, interatividade, mensagens de emergência, segurança e datacasting. Também permite que as emissoras acompanhem as demandas do mercado e as evoluções tecnológicas. Caberá à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) o planejamento das faixas de frequência para garantir a transição tecnológica.
O decreto também contempla a implantação da Plataforma Comum de Comunicação Pública e Governo Digital, que integrará conteúdos de comunicação pública e informações governamentais.
O que muda com a TV 3.0?
A implementação da TV 3.0 será gradual e deverá ser concluída até a Copa do Mundo de 2026 nas principais cidades. O modelo conecta a internet aos canais abertos, adotando formato semelhante ao existente em países como Japão e Coreia do Sul. Entre as inovações nacionais, o governo destaca o DTV Play, recurso que organiza canais em aplicativos.
“Será possível navegar entre a programação da emissora e conteúdos via internet diretamente pelo menu da TV, usando aplicativos, de forma semelhante às plataformas de streaming”, explica o professor e doutor em comunicação Paulo Henrique Almeida.
Entre as principais novidades, estão:
– Imagem em resolução 4K com HDR;
– Som de qualidade cinematográfica (áudio imersivo);
– Personalização do conteúdo conforme preferências do usuário;
– Recursos de acessibilidade aprimorados (como Libras e audiodescrição);
– Integração com a internet para consumo sob demanda e serviços interativos;
– Capacidade de segmentar transmissões por região e perfil.
Interatividade
Conforme o Ministério das Comunicações, o tipo de interação dependerá do provedor de conteúdo. Será possível, por exemplo, participar de enquetes, escolher câmeras em um reality show ou comprar produtos exibidos na tela.
Durante partidas de futebol, o telespectador poderá rever um lance polêmico com um clique no controle remoto — funcionalidade típica das plataformas de streaming, agora disponível na TV aberta.
O acesso à TV 3.0 será gratuito, mas inicialmente exigirá conversor, até que as televisões vendidas no Brasil estejam totalmente preparadas para o novo padrão.
Conteúdos pela TV
Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgada em julho mostra que 53,5% dos usuários de internet no Brasil acessam conteúdos pelo aparelho de televisão.
O levantamento, realizado em 2024, aponta o celular como principal meio de acesso (98,8% dos entrevistados), seguido pela TV (53,5%). Já o uso do microcomputador caiu de 63,2% em 2016 para 46,2% em 2019, atingindo 33,4% em 2024 — o menor índice da série histórica.
Para o diretor do Departamento de Inovação, Regulamentação e Fiscalização da Secretaria de Radiodifusão do Ministério das Comunicações, Tawfic Awwad Junior, os números refletem uma tendência global e reforçam o potencial da TV 3.0.
Implantação gradual
Especialistas alertam para a complexidade da implementação da TV 3.0. Professor e pesquisador de cibernética e inteligência artificial, Romes de Araújo aponta que implantar uma nova estrutura de redes em um país com o tamanho continental do Brasil vai exigir um trabalho coordenado e eficiente, bem como investimentos por parte do governo.
“Em alguns casos, esse novo formato exigirá dos usuários a troca de aparelhos ou a compra de adaptadores, como na transição do sinal analógico para o digital”, explica.
Cenas de cinema
As tendências apontam para o crescimento contínuo de serviços de streaming, integração com dispositivos inteligentes e ampliação da produção de conteúdo original.
“Espera-se maior realismo nos conteúdos, com reprodução de cores mais precisas, nitidez em cenas de ação e som tridimensional, criando um entretenimento mais próximo do cinema”, ressalta Paulo Henrique Almeida.
Romes de Araújo destaca o potencial de consumo nos próximos anos, sobretudo pela gratuidade. “Com a TV 3.0, esse padrão de consumo característico da internet, mas pago, vai se encontrar com a oferta gratuita e o amplo alcance da TV. Será algo de altíssimo impacto em nossa economia, especialmente porque a TV 3.0 permite a personalização de anúncios, seja por região ou perfil do próprio telespectador”, prevê.
Fonte: R7