Derramamento de vinhaça ocorreu em 2007; audiência de conciliação não deu resultado
Rio Bugres, que passa na Terra Indígena Umutina
Os indígenas da etnia Umutina estão cobrando da Usina Itamarati uma indenização de R$ 40 milhões por danos ambientais, culturais e morais causados pelo derramamento de vinhaça no Rio Bugres, que atravessa suas terras.
O desastre ambiental, ocorrido em 2007, causou grave dano a Terra Indígena Umutina, que conta com 480 moradores, e comprometeu a subsistência de centenas de indígenas.
A última audiência, realizada no dia 16 de agosto e mediada pelo Ministério Público Federal, terminou sem acordo após a usina propor de R$ 2 milhões, ou seja.
A vinhaça, resíduo gerado pela produção de etanol durante a destilação do álcool, foi derramada no Rio Bugres, resultando na morte de peixes e na degradação da qualidade da água, impactando a saúde e o bem-estar cultural da comunidade indígena, que até hoje enfrentam as consequências desse evento.
“Não podemos mais pescar como antes. Perdemos nossa fonte de alimentação e renda, mas também perdemos parte de nossa cultura”, declarou o presidente da Associação Indígena Balatiponé, Filadelfo de Oliveira Neto. Segundo ele, a pesca, além de ser um meio de subsistência, é uma atividade cultural muito importante para os indígenas, e sua interrupção representou uma perda devastadora tanto financeira quanto cultural para a comunidade.
Em 2022, uma perícia encomendada pelo MPF apontou danos antropológicos aos indígenas, já que muitas famílias tiveram que deixar suas casas e a área onde está o cemitério após o vazamento de resíduos.
O cacique Cacildo Amajunepá relatou que sua família foi obrigada a se mudar devido à contaminação do rio.
“A água ficou contaminada, e tivemos que criar outra aldeia, longe do nosso lugar original. As perdas foram muitas, tanto materiais quanto culturais”, lamentou.
Os principais danos alegados pelos indígenas são: interrupção da pesca; perda de renda; deformações nos peixes; suspensão da tradicional Festa do Timbó e migração forçada das famílias.
A advogada Cássia Souza Lourenço, que representa a Associação Indígena, explicou que o valor proposto pela usina se refere apenas aos danos ambientais, sem considerar os prejuízos morais e materiais sofridos pela comunidade.
“Os impactos devastadores incluem a perda de peixes, a deterioração da água, o surgimento de doenças e a desintegração cultural. A reparação ambiental foi avaliada em R$ 2 milhões, mas defendemos R$ 10 mil por danos morais para cada família e R$ 22,3 milhões por danos materiais” disse.
A sensação é de mendicância, segundo o cacique Paulo Monzilar.
“Já se passaram mais de 17 anos desde que a empresa causou esse dano, e até hoje não houve reparação. Me sinto como se estivesse mendigando para a empresa”.
Fonte: MidiaNews