36.2 C
Mato Grosso
quinta-feira, setembro 19, 2024
spot_img
HomeNacionalDebate eleitoral pela Prefeitura de São Paulo tem ataques verbais e até...

Debate eleitoral pela Prefeitura de São Paulo tem ataques verbais e até agressão física

A disputa eleitoral da prefeitura da maior cidade brasileira teve, no domingo (15), um episódio inédito: um candidato agrediu o outro durante um debate.

A cena que assustou quem estava presente, que surpreendeu quem assistia e ganhou o noticiário e as redes sociais aconteceu uma hora e sete minutos depois do início do quinto debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo.

A chegada dos seis candidatos ao debate da TV Cultura, no domingo (15), ocorreu dentro da normalidade. Os organizadores avisaram os candidatos sobre as regras. Uma delas, a proibição de sair do púlpito, foi reafirmada para evitar o que houve no dia 1º de setembro, no debate da TV Gazeta, quando José Luiz Datena, do PSDB, se movimentou e ficou cara a cara com Pablo Marçal.

Não sair do lugar estabelecido por ordem alfabética e não ofender com palavrões eram parte das regras que, desobedecidas, poderiam fazer o candidato perder tempo de fala e, na terceira transgressão, ser expulso do debate. Tudo para evitar que agressividade e insultos impedissem a discussão de projetos de interesse dos eleitores.

José Luiz Datena (PSDB) dá cadeirada em Pablo Marçal (PRTB) após acusação em debate na TV Cultura, em São Paulo. — Foto: Reprodução/TV Cultura

José Luiz Datena (PSDB) dá cadeirada em Pablo Marçal (PRTB) após acusação em debate na TV Cultura, em São Paulo. — Foto: Reprodução/TV Cultura

No domingo (15), no debate, José Luiz Datena, do PSDB, foi alvo de ofensas e provocações que culminaram com a agressão a Pablo Marçal, do PRTB.

“O Datena não sabe nem o que ele fala aqui. Eles todos têm marqueteiros e gastam milhões. Ele fica inventando conversa todas as vezes, mas o Brasil quer saber, São Paulo quer saber: que horas você vai parar? Você não respondeu à pergunta. A gente quer saber. Você é um arregão. Atravessou o debate esses dias para me dar um tapa e falou que queria ter feito. Você não é homem nem para fazer isso. Você não é homem”, disse Pablo Marçal.

“Não, Datena!”, pediu o jornalista Leão Serva.

“Vai”, diz Pablo Marçal.

O jornalista Leão Serva, que mediava o debate, pediu um intervalo. Um vídeo dos bastidores mostra que a discussão continuou por alguns minutos. Os dois candidatos foram contidos por quem estava perto. Seguindo as regras do debate, Datena recebeu ordem de deixar o estúdio e falou sobre o incidente.

“Infelizmente, eu perdi a cabeça. Não deveria ter perdido? Acredito que não. Podia ter simplesmente saído do debate e ter ido embora para casa, que era muito melhor. Mas do mesmo jeito que eu choro como uma reação humana, essa foi uma reação humana que eu não pude conter”, afirmou o candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSDB.

Nesta segunda-feira (16), Datena divulgou uma nota. Declarou que não defende o uso da violência para resolver um conflito, admitiu que errou, mas que de forma alguma se arrepende.

Depois da agressão no debate de domingo (15), o candidato Pablo Marçal ainda ficou por algum tempo no estúdio, mas decidiu procurar atendimento médico. O candidato passou por exames e, segundo o boletim do Hospital Sírio-Libanês, ele sofreu traumatismo no tórax e no punho direito, sem maiores complicações associadas. Depois de receber alta, Marçal foi registrar um boletim de ocorrência.

“Eu vou sair daqui e vou para o IML fazer exame de corpo de delito. Nós vamos pedir a cassação do registro dele”, disse Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo.

Ao fim do debate, outros candidatos se manifestaram sobre o ocorrido.

“O que eu pude fazer foi correr e tentar segurar o Datena ali, ajudar a separar. Infelizmente, um dia triste para a democracia”, afirmou Ricardo Nunes, do MDB, prefeito de São Paulo e candidato à reeleição.

“Acredito que nós temos que fazer um pacto entre todos os candidatos para buscar elevar o nível dessa campanha”, disse Guilherme Boulos, do PSOL, candidato à Prefeitura de São Paulo.

“É muito triste. Eu vejo que a nossa cidade precisa tanta coisa e a gente vê esse tipo de resposta”, disse Marina Helena, do Novo, candidata à Prefeitura de São Paulo.

“Acho que todo mundo que leva essa eleição minimamente a sério se entristece, se revolta com o que aconteceu”, disse Tabata Amaral, do PSB, candidata à Prefeitura de São Paulo.

Em nota, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) declarou que “repudia qualquer tipo de ofensa ou violência” e que “defende um debate de ideias civilizado, respeitoso e pacífico”.

O Ministério Público de São Paulo também manifestou reprovação às cenas presenciadas na noite de domingo e afirmou que “tomará as medidas cabíveis para garantir a lisura do pleito, reprimindo comportamentos que colocam em xeque a democracia”.

Debate, uma ferramenta importante para a democracia

A discussão de ideias e propostas é tão essencial e tão antiga quanto a própria política. Mas foi em 1960, nos Estados Unidos, que a transmissão do primeiro debate pela TV elevou o formato a uma ferramenta importante para a democracia contemporânea e as eleições. O debate entre os candidatos à presidência John Kennedy e Richard Nixon naquele ano foi acompanhado por mais de 60 milhões de telespectadores.

No Brasil, com o fim da ditadura militar, os debates passaram a fazer parte das campanhas eleitorais. Há embates históricos e, às vezes, duros. Mas nunca uma agressão física como a de domingo (15) tinha sido registrada no debate de uma grande cidade.

Quem analisa e estuda política, como o professor Pablo Ortellado, da USP, lamenta a violência e o radicalismo das campanhas na era digital.

“Quem sai perdendo é o eleitor, quem sai perdendo é a cidade. Porque a gente não está conseguindo avaliar as propostas. Isso virou uma coisa marginal nos debates. A própria dinâmica das mídias sociais premia comportamentos extremos porque eles viralizam rapidamente”, afirma Pablo Ortellado, professor de gestão de políticas públicas da USP.

O professor Marcos Teixeira afirma que, na democracia, os debates têm relevância ao permitir a comparação de projetos diferentes para a escolha do eleitor.

“Os debates políticos têm importância fundamental, porque eles colocam frente a frente competidores com projetos de cidade, projetos de estado projeto de presidência diferentes. Possibilitando, a partir do contraponto de cada um, que o eleitor tenha uma opção de escolha sobre aquilo que é melhor para ele. Então, essa é a função principal dos debates: fazer com que as ideias sejam debatidas para que o eleitor possa fazer escolhas. Isso é um elemento crucial da democracia. A democracia é isso: diversidade de opinião, diversidade de argumentação e convencimento; não é violência e não é agressão”, opina Marcos Teixeira, professor de Ciência Política da FGV EAESP.

Noticias Relacionadas
- Advertisment -
Google search engine

Mais lidas