Raí Caldato e o heptacampeão de F1 trabalharam juntos por seis temporadas, e o artista diz se sentir campeão, como o britânico
Os carros de Fórmula 1 chegam a mais de 330 quilômetros por hora. Por conta dessa velocidade, a maneira mais fácil de identificar um piloto nas pistas é pela pintura do carro e dos capacetes que os atletas vestem.
O heptacampeão de Fórmula 1, Lewis Hamilton, escolheu um brasileiro, Raí Caldato, para ser o responsável por criar os designs do acessório de segurança por seis temporadas, de 2017 a 2022. O artista diz se sentir um campeão e explica a gratidão pelo britânico.
Apaixonado por automobilismo desde criança, o artista contou ao R7 que foi apresentado à categoria pelo pai, Roberto Caldato. A paixão começou só pela televisão, por onde acompanhava a Fórmula 1 desde 1981, quando Nelson Piquet conquistou o primeiro título da carreira.
A primeira vez em um autódromo foi em 1990, aos 14 anos, quando o Grande Prêmio do Brasil voltou a acontecer na capital paulista, em Interlagos. Nos anos 1978 e de 1981 a 1989 a corrida aconteceu em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
“Naquele dia, eu me lembro muito bem que na hora que vi a Fórmula 1 ao vivo, minha paixão multiplicou por cem. Eu tremi inteiro com aquele som maravilhoso, o Ayrton [Senna] na minha frente! Naquele momento eu decidi que gostaria de um dia trabalhar com automobilismo e que a minha paixão deixaria de ser um passatempo”, disse.
Raí passou a estudar o automobilismo e se formou em desenho industrial. Só que o início da carreira foi mais complicado do que ele imaginava. Sem perspectiva de ter o trabalho de seus sonhos, ele quase largou o design para investir em uma nova área.
Mas, em 2010, Bruno Senna lançou um concurso para artistas criarem um capacete para ele vestir no GP do Brasil daquela temporada, que era especial porque marcaria os 50 anos de Ayrton Senna.
Com o apoio da família e dos amigos, Raí criou um desenho para o piloto e se inscreveu. Pouco depois, veio a resposta: o design dele havia sido o escolhido.
Vencedor do concurso, Raí encontrou Bruno Senna – Arquivo Pessoal
“Quando eu me dei conta que o Bruno estava na pista com meu capacete, me lembrei do GP Brasil de 1990, quando da arquibancada eu desejei estar do outro lado do alambrado, na pista”, conta.
O talento do designer chamou a atenção de Alan Mosca, filho de Sid Mosca — responsável por customizar os capacetes de Ayrton Senna, Nelson Piquet, Michael Schumacher, Keke Rosberg e Mika Hakkinen —, que o convidou para fechar uma parceria, o que fez com que ele continuasse a customizar e criar desenhos de capacetes.
Em 2017, Raí teve a chance de participar de outro concurso. Desta vez, o convite era de Lewis Hamilton, que disputaria a temporada em busca do tetracampeonato.
Mais uma vez, o designer venceu entre outras 8.000 criações ao redor do mundo. A arte proposta continha referência a Ayrton Senna, ídolo do piloto.
“Eu coloquei elementos nas cores verde, amarelo e azul, fazendo uma homenagem ao Ayrton. Nas laterais, coloquei três estrelas para representar o tricampeonato, como se fosse uma intersecção: o fã [Lewis] e o ídolo [Senna] estivessem unindo forças na luta pelo tetra”, explica.
O tetracampeonato veio e, após conhecer Raí pessoalmente no GP do Brasil de 2017, Hamilton decidiu manter o brasileiro como o seu designer.
Juntos, os dois trabalharam em seis temporadas, com capacetes especiais e de diversas cores. A parceria foi interrompida no fim de 2022, por decisão de Raí, que decidiu dedicar o tempo para a família após perder o pai.
Senna é o herói de Hamilton e Raí tem o pai Roberto como seu grande ídolo. Por isso, ele não titubeia, apesar da emoção, para responder qual é o desenho favorito que já criou.
“O capacete do GP Brasil de 2021 para mim é realmente especial. O Hamilton pegou a bandeira do Brasil, como Senna fazia, e eu lembro que meu pai me ligou muito feliz, muito orgulhoso. Na época, já foi muito emocionante e acabou tendo um gostinho ainda mais especial, porque foi o último capacete do GP Brasil que meu pai viu”, recorda.
“A minha meta de chegar na Fórmula 1 aconteceu com Bruno [Senna] e com o Lewis eu fui campeão mundial. A gente se sente [campeão] junto, com certeza”, diz. “Eu tenho muita gratidão por tudo que ele [Hamilton] me proporcionou. Talvez ele nem saiba, mas foi orgulho do meu pai e da minha mãe”, finaliza.
Fonte: R7