No último mês, o estudante de Engenharia Agronômica, Antonino Gonçalves Medina, teve a oportunidade de registrar um “lifer”, termo que significa que o observador de aves encontrou aquela espécie pela primeira vez.
Muitos observadores fazem uma lista de todas as aves que já fotografaram em sua vida, que em inglês é chamada de life list. O lifer de Antonino foi de um uru-corcovado (Odontophorus gujanensis), com foto tirada em uma mata ciliar do rio Tartaruga, em Nova Ubiratã.
“Só conhecia a espécie por imagens e literatura. Nunca a tinha visto, mesmo estando na área de ocorrência dela. Embora eu sempre a procurasse, nunca nem mesmo tinha ouvido seu canto”, relata.
Medina, que costuma passarinhar na região de Sinop, no norte do Mato Grosso, ficou entusiasmado com o registro, tanto que descreveu a espécie como “ave fantasma”, pela dificuldade de encontrá-la.
“É uma ave relativamente rara de observar e registrar, mesmo ela tendo uma grande área de ocorrência na Amazônia. É uma espécie muito arisca, similar a muitos tinamídeos florestais, além de sofrer com os impactos da destruição de seu habitar e com a caça”, afirma.
Medina conta que utilizou o playback com o canto do uru-corcovado para chamar a espécie em meio a mata. Quando enxergou o animal, o universitário conta que se camuflou para conseguir realizar o registro tão estimado.
“Me escondi atrás de um cupinzeiro para ele não me ver. Quando vi que estava na minha frente, tive que levantar pra fazer a foto. Foi tempo suficiente para apenas um clique, já que ao me ver o bicho deu meia volta e saiu correndo”, descreve.
A espécie
O uru-corcovado mede de 24 a 29 cm de comprimento e pesa entre 260 e 300 g. O peito é pardo e a maior parte da cabeça é marrom. Costas e coberteiras são listradas em tons escuros e claros de marrom. O jovem possui bico vermelho alaranjado, região que fica cinza na maturidade.
No Brasil, a espécie é encontrada em toda a região Norte e em partes do Mato Grosso e do Maranhão. Também habita outros países como a Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Panamá, Peru, Suriname e Venezuela.
Vive em pequenos bandos, de cinco a oito indivíduos, ciscando o chão de florestas úmidas densas em busca de alimentos, tais como sementes, frutos, caramujos, insetos e pequenas aranhas. Raramente aparece nas bordas das matas.
Uma curiosidade é que esses animais geralmente se deslocam em fila indiana. Quando assustados, agacham e se escondem, ou fogem correndo, mas voam apenas quando são surpreendidos ou ao se sentirem pressionados.
Como a espécie passa a grande parte do tempo no chão, é no solo que constrói o ninho, também podendo produzi-lo em cavidades rasas, utilizando folhas e gravetos, com uma entrada lateral. Os urus têm o hábito de cantar ao amanhecer e ao entardecer.
A fêmea bota quatro ou cinco ovos brancos, que são incubados por 24 e 28 dias, aproximadamente. Outro fato interessante sobre a espécie é que os filhotes deixam o ninho cerca de apenas 20 horas após o nascimento.
Segundo o biólogo do Terra da Gente, Luciano Lima, os filhotes de aves podem ser classificados em nidífugos ou nidícolas. “Os nidícolas nascem quase completamente sem penas e permanecem no ninho por um tempo relativamente longo, dependendo completamente dos pais. Já os filhotes de aves nidífugas, como os urus, galinhas, patos, ema, entre outras espécies, abandonam o ninho pouco depois que nascem, passam a seguir os pais e conseguem se alimentar praticamente sozinhos” explica.
Impacto MT